Deixamos Quioto em uma determinada manhã com direção a Nara. Lá descemos e tomamos outro trem para a Vila de Ikaruga, onde visitamos o complexo de templos budistas Horyu-ji, primeiro Patrimônio Mundial do Japão.
Considerado o berço do Budismo japonês, foi construído sob ordem do Príncipe Shotoku, no século VII, que queria consolidar o budismo no país, lado a lado com o xintoísmo, durante o período Asuka. Além disso, cumpria um promessa feita ao pai em seu leito de morte.
Um dos muitos pontos interessantes em Horyu-ji é que suas terras abrigam as estruturas de madeira mais antigas do mundo, de períodos variados da história japonesa que vai do Asuka (552-645) até o Momoyama (1573-1598) transmitindo para os dias atuais imagens de um Japão que já não existe, compreendendo um passado mais de 1000 anos.
Contam que no século VII ardeu em fogo, mas não há certezas sobre isso. Os fatos, entretanto, mostram que Horyu-ji é um sobrevivente: de incêndios e de terremotos. O templo budista não se deixou corroer ou vencer pelas intempéries.
Quando o visitamos, ele estava quase vazio, salvo por alguns turistas japoneses e grupos de crianças fardadas (era domingo) que ao passar por nós sorriam, davam adeus e diziam: Hi, hello, how are you… Eu prontamente respondia retribuindo sorrisos e o tchauzinho.
A composição de Horyu-ji

Recinto ocidental: Kondo (salão principal) à esquerda, Chumon (Portão Central) no centro e o Pagode de 5 andares à direita
No século VII o imperador Yomei estava muito doente. Ele prometeu construir um templo e um Buda caso se curasse. Foi em vão, pois ele morreu. A imperatriz e seu filho Shotoku, resolveram cumprir a promessa que fizeram ao imperador antes dele vir a falecer.
O templo foi dedicado a Yakushi Nyorai, Buda da cura. Foi chamado Templo Ikaruga, por conta do local onde foi construído ou Horyu-ji – Templo da Lei Florescente.
O Complexo Horyuji é composto por dois recintos: o Toin-garan (東 院) ou o Higashi-no-in (Templo do Oriente) agrupados em torno do Pagode de Cinco Andares e do Saiin-Garan (西 院) ou Nishi-no-in (Templo Ocidental) centrado no Yumedono (Salão das Visões).
São 187.000 metros quadrados de terrenos e mais de 2300 estruturas e artigos culturais importantes no cenário histórico do Japão.
Portão de entrada sul – Nandaimon

Portão de entrada sul – Nandaimon
Nós entramos no Complexo Horyu-ji pelo portão sul denominado Nandaimon. Ele foi restaurado na primeira metade do século XV. Nandaimon é um misto de solidez e elegância, muito adequado para lugar de tamanha importância como Horyu-ji.
Esta é uma estrutura do período Muromachi que durou do século XIV até o XVII.
A bela alameda e o poço
Alameda que liga o Portão sul ao Portão Central

Ritual de purificação no poço
Quando o atravessamos nos vimos em uma bonita e larga alameda que nos conduziu até o Chumon, o portão central. Ao fundo eu já conseguia enxergar uma nesguinha das antigas estruturas que nos levaram até este lugar. Estava ansiosa por vê-los.
Antes de nos aproximarmos, paramos no poço. Ele é usado para purificação. Ficamos observando como as pessoas procediam e as imitamos.
O ritual consistia em pegar a água com a concha e lavar a mão. Ato contínuo, reter um pouco da água na mão e então levar à boca. Vi pessoas engolindo e outras cuspindo.
A água estava sempre gelada, porque a temperatura estava muito baixa.
Chumon – o Portão central

Chumon – o portão central com os guardiões

Chumon – Portão central

Com Ungyo
- Ungyo
- Agyo

Ungyo em close
Este belíssimo portão é do período Asuka que compreende a metade do século 6 até o início do 8. O Chumon me deixou em estado de êxtase por conta dos mais velhos guardiões de argila do Japão que estão posicionados nas laterais do velho portão. São do século VIII.
Os Kongo Rikishi ou Guardiões de Buda me impressionaram muitíssimo! Eles são muito musculosos e enormes. Contudo, foi a expressão de ambos o que mais me prendeu e eu tive dificuldades em afastar o olhar. Eles me pareceram tão reais, como se habitassem ao mesmo tempo dois mundos: um espiritual e mais fluído e outro de objetos sólidos, mais concreto e pesado.
Foi neste segundo que os encontramos.
Ungyo está de boca fechada e em uma posição defensiva, posicionado à esquerda do Chumon. Sua boca cerrada significa morte ou fim. Ele abriga os bons espíritos.
À direita do Chumon encontramos Agyo, em posição de ataque com o braço levantado. Sua boca está aberta e significa vida ou começo. Ele espanta os maus espíritos.
Eu senti-me em um lugar mitológico, prestes a atravessar um portão onde somente os espíritos puros de coração poderiam passar. Os que assim não fossem entrariam em combustão.
Atravessamos e entramos em Horyu-ji.
O Pagode de 5 andares – Goju-no-To

Pagode de 5 andares

Pagode de 5 andares – o mais antigo do Japão neste estilo
Para mim, a estrutura mais interessante de Horyu-ji! Cheio de simbolismo e significado ele tem 32,5 metros desde sua base e parece querer alcançar o céu. É o mais antigo do país neste estilo. Foi inspirado na China que por sua vez buscou um modelo de stupa no budismo indiano.
Cada andar representa algum elemento da natureza: terra no nível 1, seguidos por água, madeira, o ar/vento e por fim, no último nível, o céu. Entretanto, há quem discorde desta significação.
Os remates do telhado são feitos em bronze, a coluna central é feita do tronco de um único cipreste, e as colunatas são ligeiramente curvas, de estilo grego, herança da rota da seda.
Foi magnífico estar diante dele! O Pagode de 5 andares tem uma placidez, um silêncio profundo que exala energia calmante.
É do período Asuka.
Outras estruturas que formam Horyu-ji

Kondo – salão principal

Salão de leitura (Daikodo)

Santuário (Kami-no-Mido)
O salão principal (Kondo), também construído no século VII (Período Asuka), é um edifício sagrado. O salão de leitura (Daikodo) onde ocorriam cerimônias fúnebres, abriga uma enorme estátua de Buda – Yakushi tríade, que significa o Buda flanqueado por dois servos. Estamos falando aqui do século X, ou seja, do Período Heian.
O repositório dos sutras (Kyozo), do Período Nara, local onde os sutras eram guardados, a sala do sino (Shoro – Período Heian) que ecoa o som do passado japonês e por fim o Santuário (Kami-no-Mido – Período Kamakura), que guarda o Sakyamuni tríade.
Tiramos os sapatos, entramos e nos pusemos de joelhos no tatame e diante de Buda, oramos agradecendo pela oportunidade de estar ali e de conhecer o Japão.
Depois, fomos almoçar.
Para informações a respeito de horários e valores clique no site: templos japoneses
Quer saber como fomos de trem de Quioto para Ikaruga?!
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De Quioto para Ikaruga de trem
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Muito interessante! Adorei saber mais sobre a história do budismo japonês e achei muito legal o ritual de purificação. Como o mundo é grande e rico, né?! Bom pra gente espiar! 😉
Oi Alessandra! 🙂 Não é mesmo verdade?! Ainda bem que ele é assim, tão vasto, tão rico e tão variado! Vamos sair por aí, muitas e muitas vezes, espiando pelo mundo! 🙂
[…] de visitarmos o complexo de templos Horyu-ji, decidimos que o almoço seria ali mesmo, na pequena Ikaruga. Era hora de experimentarmos novos […]
Ta ai um país que quero muito visitar e ainda não consegui ir. Adorei saber essas curiosidades do ritual.
E como esses pagodes são bonitos eim!
Verdade, Diego!!! os templos japoneses são muito bonitos e interessantes. Talvez por serem diferentes dos templos que estamos mais acostumados a ver, eles chamem bem a nossa atenção, especialmente os pagodes e seus significados. 🙂
Acho que preciso de uma temporada grande no Japão para conseguir visitar todos esses lugares pra lá de especiais e cheios de história! Adorei o post!
Obrigada Sonia… O Japão tem mesmo tantos detalhes que só mesmo uma temporada grande. Eu fiquei apenas 15 dias e deu para sentir de leve o gostinho. ehehehe bjs
Que lugar incrível!!! Uma viagem ao Japão deve ser uma coisa fora de série… Só de pensar na quantidade de templos para conhecer, um mais bonito e cheio de história que o outro…
É exatamente isso!!! Você definiu muito bem uma viagem a este incrível país. 🙂 bj
[…] manhã começou com uma visita ao conjunto de Templos Horyu-ji na cidade de Ikaruga. De lá, tomamos o trem novamente em direção a Nara, viagem que não durou […]