Verão, numa manhã nublada, fria, linda e tipicamente inglesa, nós saímos da cidade de Newcastle, onde estávamos hospedados para Wallsend, de trem. O nosso objetivo era ver de perto os resquícios da famosa Muralha de Adriano, considerada a mais forte parede de defesa do Império Romano.
Eu adoro ruínas!
Elas, mesmo quando não estão muito bem conservadas, perdidas em meio ao presente, à destroços, caos e falta de sentido, me causam profunda impressão. Especialmente quando são os restos das construções romanas. Às vezes, chego a pensar, se vivi em alguma fase do Império Romano, em qualquer outra de minhas vidas.

A estação de metrô em Wallsend
A Muralha de Adriano em Wallsend na Inglaterra
O que chamamos de Muralha de Adriano é formada pelo museu, localizado no antigo Forte de Segedunum e o sítio arqueológico, onde estão as ruínas das antigas estruturas que abrigavam as tropas de defesa, bem como o que restou da muralha.

Chegando para ver de perto a famosa Muralha de Adriano em Wallsend
No museu temos acesso à história da muralha, suas especificidades, seu caminhar no tempo e sua relevância para o Império Romano. Já no sítio arqueológico, Patrimônio Mundial da Unesco, pisamos em solo do grande Império Romano.
Caminhando entre os escombros, vamos refazendo o mapa da vida naquela região tantos e tantos anos atrás.
O imperador Adriano
César Públio Élio Trajano Adriano Augusto, nasceu em 24 de janeiro de 76 e morreu em 10 de julho de 138, com 62 anos de idade. Foi imperador da poderosa Roma e seu vasto território de 117 até sua morte.
Foi um imperador viajante. Fez inúmeras viagens percorrendo as diversas províncias do império romano, passando assim, muito tempo distante de Roma. Adriano foi considerado um curioso das coisas do mundo, um espírito inquieto.
Foi um gestor mais protecionista das fronteiras, que expansionista. Construiu assim, muitas fortificações, principalmente na Germânia (área que incluía o que hoje conhecemos como Rússia) e Bretanha, como a que visitamos naquele dia em Wallsend.
Sua primeira viagem aconteceu em 121, poucos anos depois de se tornar imperador. Um dos locais visitados foi a Bretanha e foi nessa época que ordenou a construção do Forte de Segedunum e da muralha, com objetivo de proteger a região das invasões bárbaras.
O seu corpo foi sepultado num mausoléu onde hoje está o Castelo de Santo Angelo em Roma.
O museu – Forte de Segedunum

O museu, antigo Forte de Segedunum
Forte Romano de Segedunum (Segedunum Roman Fort) significa Forte Romano Forte. Hoje, um museu, foi bem aí que começou nossa visita pela trajetória romana em solo britânico. Assim, através das informações disponíveis, começamos a entender um pouco mais sobre a construção da muralha no nordeste da Inglaterra.
O forte foi construído para guardar a extremidade oriental da Muralha de Adriano, próximo ao River Tyne. Hoje, nada mais existe de sua antiga estrutura. A arquitetura do museu tem, inclusive, um ar moderno.
A primeira coisa que fizemos foi chegar no observatório onde tivemos uma vista do Rio Tyne. Vimos do alto o sítio arqueológico. Por meio de mapas e escritos (em inglês) compreendemos um pouco de como funcionava o lugar, onde estava localizado cada edifício romano.

O que sobrou das estruturas que abrigavam as tropas de defesa romanas em solo britânico

O River Tyne visto da torre de observação do museu, antigo Forte Romano Segedunum
Trajetória romana
Do observatório, fomos passeando pelas salas do museu, lendo os inúmeros painéis expostos, percorrendo desse modo, a mui antiga história local durante a época romana. Além do material impresso, alguns setores do museu reconstruíram os prédios romanos para nos darem uma noção mais real de como eles funcionavam e eram ordenados.
Maquetes e objetos recuperados também são exibidos.
Os soldados alocados para o Forte de Segedunum vinham de toda parte e não necessariamente de Roma: Alemanha, Áustria, Suíça, Hungria, Bulgária, Croácia e norte da África.
Que intenso caldeirão cultural!
- Alguns ambientes são recriados
- O estábulo como na era romana
- Maquete do lugar quando Wallsend fazia parte do Império Romano
- Variados objetos romanos recuperados
O sítio arqueológico
Visto o museu, entendido um pouco da história, fomos percorrer a muralha, a ruína, o solo… Minha parte favorita, sem dúvida nenhuma! Antes, contudo, uma pausa para um café coado (não estava grande coisa, meio aguado) na cafeteria do museu.
Com vista para o sítio arqueológico.

Pausa para um café no museu
A vida na Muralha de Adriano acontecia aqui, onde vários prédios necessários ao funcionamento cotidiano do Forte de Segedunum estavam localizados como banheiros, estábulos, hospital e tantos outros.
Sobrou muito pouca coisa das antigas estruturas. Quase nada na realidade. Foi preciso associar as informações adquiridas, com certo, muito na verdade, exercício de imaginação para visualizar o passado. Mesmo assim, para mim, que adoro ruínas, foi uma espetacular viagem no tempo.
Em cada resto de estrutura, mais informações, em inglês, em cartazes. O sítio arqueológico contém pedras originais e seculares e algumas nada originais que estão ali apenas para reconstruir o cenário e nos levar nesse passeio.

Vendo bem de perto o que restou do Império Romano em Wallsend
O sítio arqueológico está hoje contornado pelo cotidiano tranquilo, mas presente de Wallsend. Os ruídos eventuais da cidade chegavam até nós e de algum modo as eras se misturaram em alguns momentos, e tudo aparecia junto e separado numa dança única.
Atravessamos o portãozinho, a rua e do outro lado encontramos pedaços da Muralha de Adriano.

Dos destroços da Maralha de Adriano, vemos o sítio arqueológico e a torre do museu
- O sítio arqueológico: o que restou das antigas estruturas romanas
- O Segedunum Roman Fort foi construído às margens do River Tyne
- O que restou dos antigos edifícios romanos
- Aqui viviam as tropas de defesa desse trecho da muralha
A Muralha de Adriano
A Muralha de Adriano compreendia mais de 5.000kms de extensão pela costa atlântica da Grã-Bretanha, passando por outros lugares da Europa, Oriente Médio e norte da África.
Aqui, defendia a fronteira noroeste do Império Romano.
Na Inglaterra, ela se estende desde a Nortúmbria até Cúmbria, com muitos fortes, museus e sítios arqueológicos a serem visitados. Quando estivemos em Wallsend, encontramos um grupo de peregrinos ingleses que estavam seguindo essa rota.

A antiga Muralha de Adriano

O pedaço da Muralha de Adriano que restou em Wallsend
De toda a visita, confesso que essa foi a que mais me atraiu. Restou apenas um pedaço muito pequeno dela. Quase, qua-se, insignificante, mas suficiente para me permitir perceber a força romana. Um resto de construção de quase 2.000 anos!
Do outro lado da muralha, casas lindas e modernas, onde antes viviam os povos denominados bárbaros.
Fiquei me imaginando vivendo ali, abrindo a janela todos os dias e me deparando com 2 milênios de antiguidade! O que eu sentiria?! Aquelas pessoas que habitam esse lugar ainda percebem e já estão envoltas na inevitável familiaridade indiferente que o tempo promove?
Quanto sangue, lágrimas, risos e amores permanecem nesse solo?
Quando a Muralha de Adriano foi abandonada e os romanos desistiram do território britânico, já sem força e em decadência, as pedras foram usadas em novas construções. A vida seguindo seus rumos!
Passado e presente. Futuro?
Claro que com o declínio do Império Romano essas terras passaram por diversas transformações à medida que foram sendo ocupadas e desocupadas e as eras foram se sobrepondo, criando ciclos. Foram várias as apropriações ao longo dos dois últimos milênios, devido à sua privilegiada posição às margens do Tyne.
Esse local não só serviu de base de proteção para o Império Romano, como nos anos seguintes, foi utilizado pelos mineradores de carvão e construção naval, estabelecendo assim, através da economia, as bases culturais do que encontramos hoje nessa parte da Inglaterra.
Antes dos romanos, essa era uma área de agricultura. Quando eles chegaram, se apropriaram das terras e os agricultores tiveram que buscar outro local. Contudo, não se tem hoje informações muito precisas ou em quantidade suficiente para entender o que aconteceu exatamente, detalhes de como as coisas se passaram.
O que se sabe é que construção do forte e da muralha bagunçou todo o estilo de vida local, o inviabilizando de tal modo, que muitas fazendas e lugares de cultivo foram abandonados. Contudo, a razão precisa dessa migração não é sabida.
Foram os romanos que expulsaram, o muro isolou as fazendas tornando impossível o modelo econômico vigente de cultivo e comércio, o acesso a água do rio?
Uma das sessões mais legais do museu são as charges. Imagens da época da Muralha de Adriano, com costumes ingleses atuais, numa mescla original e muito divertida! Deliciosamente e britanicamente irônica!
- Essa é a muralha romana e essa estrada é romana, mas você não está na Itália e na Britânia nós dirigimos não mão esquerda
- O Imperador não vai gostar dos locais grafitando seu muro
- Então, essas são suas melhores opções… Nós chamamos a cidade com o novo castelo (new castle em inglês) Newcastle e a cidade no fim da muralha (wall end, fim da muralha em ingês)… Wallsend
Resumindo…
Passamos quase o dia inteiro nessa volta aos tempos de Adriano, através dos fragmentos dessa muralha e dos edifícios romanos. Nesgas muito finas, é verdade, pois restou pouco, muito pouco. Foi preciso algum esforço para entendermos como viviam as tropas aí.
Eu adorei fazer essa visita, porque eu gosto muito de saber sobre as trajetórias dos destinos que eu visito. Amo também perambular entre ruínas. Entretanto, eu só recomendo ir até o Forte Romano de Segedunum, a quem gosta muito dessas viagens sensoriais, históricas, antigas. Onde cada pedaço de pedra importa, interessa.
Almoço

Almoço vegano no café do Museu (antigo Forte Segedunum)
Como é comum para nós quando visitamos museus e sítios arqueológicos, almoçamos no café do museu. Raras vezes nos decepcionamos com a comida e/ou valores, que costumam ser bem acessíveis. Almoçar dentro de museu, nos templos de arte e história, me deixa sempre em estado de felicidade.
Nessa visita à Muralha de Adriano em Wallsend, nós pedimos o vegan brunch: salsichas, torradas, feijões, tofu mexidos, cogumelos, tomate assado e batatas. A Inglaterra é o paraíso para as pessoas vegetarianas. Sempre tem boas e fartas opções!
Pagamos $6.00 pounds.
Informações adicionais
A Muralha de Adriano (museu, sítio arqueológico e muralha) está localizada no endereço Buddle Street, Wallsend . O ingresso custou $5.95 e compramos na hora, na bilheteria do museu.
Chegamos na cidade e também saímos dela de trem. Da estação – Wallsend – caminhamos cerca de 300 metros ou 5 minutos até o antigo Forte de Segedunum. Os bilhetes foram comprados ainda em Newcastle, numa das bilheteria do metrô: ida e volta.
Não foi necessário comprar com antecedência.
Quer saber um pouco mais sobre a animada região de Quayside em Newcastle upon Tyne?!
Então clica no link bem aqui abaixo!
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A Muralha de Adriano em Wallsend na Inglaterra
Por fim, se você, meu caro viajante, gostou de saber um pouco sobre A Muralha de Adriano em Wallsend e de como foi a experiência de a ver de perto, decerto gostará de compartilhar em suas redes sociais a fim de que os amigos e conhecidos leiam também!
Muito interessante a Muralha de Adriano em Wallsend! Nunca tinha ouvido falar, mas parece ser um passeio que vale muito a pena para quem gosta de história!
oi Marina, para quem gosta de história e ruínas, vale sim, ver de perto a Muralha de Adriano nessa parte da Inglaterra! bj
Já fui à Inglaterra, mas não conheci a Muralha de Adriano. Que coisa! Espero que conhecer da próxima vez que for. Louco para que essa pandemia acabe para voltar ao país.
Nem me fale Matheus! Doida para voltar a viajar e rever a Inglaterra. Tem muitos rastros dos romanos que sobreviveram aos tempos em terras inglesas; a Muralha de Adriano é apenas um deles e vale a visita para quem gosta. 🙂
Compartilho o seu sentimento de familiriadade com as muralhas, adoro! Mas ainda não conhecia sobre a Muralha de Adriano em Wallsend, passeio riquíssimo em história. Já quero visitar e o post vai me ajudar demais. Obrigada por dividir essas informações!
oi Marjorie… eu gostei muito dessa visita! 🙂
Que interessante, nunca tinha ouvido falar da Muralha de Adriano. Tenho muita vontade de voltar à Inglaterra e conhecer mais
Oi Marcela… eu também só descobri sobre a Muralha de Adriano quando iniciei minhas pesquisas sobre Newcastle. Eu acho que a Inglaterra é um país que tem muita coisa legal para ver e visitar. Quero voltar ainda tantas outras vezes, além das duas que eu já fui. 🙂
Não conheço o norte da Inglaterra ainda, mas já sei que adoraria visitar o Forte de Segedunum em Wallsend pq ruínas romanas é comigo mesmo kkkk claro q sabia da muralha de Adriano, mas não sabia desse trecho que virou um museu – obrigada pelas infos do post!
oi Fer… também adoro uma ruína romana. rsrsrs pois tem vários trechos da Muralha de Adriano nessa região. Um dia quero voltar para mais explorações. bjus