Nós voamos para a Suíça em Maio de 2017 para que Leo pudesse correr a Maratona de Genebra. Maratonista apaixonado como ele é sempre combinamos nossas viagens pelo mundo com corridas de rua.
A seguir, a Maratona de Genebra por Leo:
Genebra, 7 de maio de 2017. Como um relógio local, desperto para minha 10ª. Maratona. Estava pronto para correr a Maratona de Genebra.

Pronto para deixar o hotel e correr a Maratona de Genebra
Razões para correr a Maratona de Genebra
A propaganda da maratona de Genebra empolga. Além do selo bronze da IAAF (International Association of Athletics Federations), seu slogan é “Fast is Beautiful”. As estatísticas diziam que 50% dos seus corredores de 2015 haviam conseguido melhorar seus tempos.
Não que eu achasse possível melhorar minhas 4:07h obtidas na Maratona do Porto em novembro de 2016, mas…
Proteção para o frio
Lá estava eu naquela manhã nublada saindo do hotel devidamente trajado do meu tradicional saco de lixo fornecido pelas faxineiras do hotel onde estávamos hospedados.
Basta 1 saco de lixo de 100l, cortar buracos para os braços e a cabeça, “vestir” e você estará protegido do frio, principalmente se estiver vestindo camiseta de corrida brasileira, feita para 30º.C e não para o outono europeu.
Quando passei pela recepção, ainda ouvi da sorridente equipe do hotel: “Sir, you are very elegant”.

Proteção (criativa) para o frio: “Sir, you are very elegant”
Como chegar até a largada da corrida
Caminhei pelas vazias ruas do centro de Genebra até a estação Bel-Air do tram que me levaria até a largada.
Em poucos minutos, eu descia do tram no local da largada, em Chêne-Bourg, uma comuna (município) do Cantão de Genebra. Para mim, eu ainda estava em Genebra, pois não havia qualquer diferença entre o centro e ali.
Vários maratonistas e acompanhantes transitavam pelo local. Gente se trocando, gente bebendo café, gente conversando, gente com capas de chuva e agasalhos das corridas de Paris, Barcelona, Nova York… mas só eu vestido de saco de lixo.
A estrutura
A Maratona de Genebra não atrai muitos corredores, mas é bem organizada. Era fácil andar pela área da largada e havia muitos banheiros químicos. Achei interessante um grande contêiner de plástico transformado em mictório químico masculino, sem qualquer fila na entrada; quem corre provas sabe que as filas para os banheiros são demoradas…
A largada seria às 9:45h na Avenue de Bel-Air e, pelas bandeiras dos países dos corredores impressas nos números de peito, era possível ver que havia gente de muitos lugares. O ambiente estava animado e alegre.
Encontrei uma cadeira na porta de um bar e me sentei, observando a multidão. Soube depois que éramos quase 2.000 maratonistas.
Perto da hora da largada, um casal de locutores começou a festa, anunciando pelo sistema de som informações em francês, alemão e inglês. Chegava o momento. E uma vez alinhado e despido do meu saco de lixo protetor, parti.
A corrida

Genebra vive no momento da maratona
Depois de 9 Maratonas sem qualquer problema, você começa a pensar quando vai “quebrar”; quando não vai conseguir correr até o fim; quando vai ter de caminhar. Poxa, era minha 10ª, um número especial. Seria essa?
Eu teria essa resposta a qualquer momento até a linha de chegada.
A Maratona seguiu por uma reta asfaltada de aproximadamente 2km, quando começou a se afastar da cidade e vieram diversas curvas. O trajeto continuava asfaltado, mas havia cada vez menos construções no caminho. Logo, só havia uma estrada e campos verdes aos lados.
Os coelhos
A via era estreita e logo me deparei com o “ônibus” das 4:15h.
“Ônibus” são grupos de corredores liderados por um ou mais corredores designados pela organização da corrida para terminar a prova em determinado tempo.
Esses corredores designados são chamados de “pacers” (coelhos), pois ditam o “pace” daquele grupo, ou seja, o tempo necessário para percorrer determinada distância em determinado tempo.
Isso é bastante comum nas provas com selo da IAAF e bem legal, pois os “pacers” dos “ônibus” vão incentivando os outros corredores e a prova flui. Menos numa prova cujo percurso é estreito, que não favorece ultrapassagem!
E lá ia eu preso no “ônibus” das 4:15h. Não conseguia ultrapassar, por que não havia espaço, mas também era perigoso continuar ali, pois a qualquer momento eu ou alguém poderia tropeçar em alguém ou em mim.
Veio o número 10 à cabeça…
Pensando e repensando a estratégia da prova
Pensei, avaliei, calculei… 4:15h eu já tinha nas Maratonas do Rio e de Münster; Já tinha 1 Maratona 4:12h (Amsterdam), 2 Maratonas 4:09h (Padova e Firenze) e 1 Maratona 4:07h no Porto… se era para “quebrar”, que fosse na 10ª.! Mas eu não podia ficar preso naquele “ônibus”!
Eu estava correndo bem e a temperatura não prometia calor ou sol. Eu deveria acelerar.
Também considerei que a Maratona subia levemente até o km 17,5, mas depois descia até a chegada. Ou seja, do meio para o fim, era só deixar o corpo ir.
Então, em determinado momento, consegui ultrapassar o “ônibus” e seguir em frente. Sabia que não podia reduzir o ritmo, caso contrário seria engolido pelo “ônibus” novamente. Pisei firme e fui em frente.
O cenário
O cenário era cada vez mais rural: o percurso passava por estradas secundárias, vias de mão única, espaços em que só cabia um carro de cada vez, longos trechos sem nenhuma torcida. Restava-me prestar atenção nos outros corredores e nos arredores.

Mapa do percurso da Maratona de Genebra
Existem muitas maratonas na Europa, não só nas grandes cidades. E é comum que, nas pequenas cidades, as provas saiam do centro e passem por áreas rurais. Assim foi em Münster e Padova, além de Genebra.
Apesar de diversos trechos solitários, é comum encontrar moradores afastados dos centros que dedicam aquele dia a celebrar a corrida; não é difícil passar por moradores de casas isoladas que estão aplaudindo e festejando os maratonistas.
As (necessárias) distrações durante a maratona
Havia também uma Maratona de revezamento em curso, então pude ver diversos corredores – descansados – passarem por mim. Chamou-me a atenção uma equipe que trazia nas costas os dizeres “T.E.A.M. = Together Everyone Achives More”.
Garoou um pouco em alguns quilômetros, mas nada que atrapalhasse o ritmo. Era só escapar das poças d’água…
No km 26, voltamos ao percurso original e percorremos cerca de 3km o mesmo caminho anterior.
Eu ia bem, ainda não fazia conta do tempo final, mas não deixava o “ônibus” das 4:15h me ultrapassar, nem via sinal do “ônibus” das 4h.
No km 30, entramos no que parecia um subúrbio de Genebra. Pelo mapa, ali era Collonge-Bellerive, outro município do Cantão de Genebra. Havia mais casas e o ambiente não era tão rural.
Depois de determinado trecho de uma maratona, forma-se um grupo de corredores. Dificilmente alguém se fala, mas se começa a marcar alguns maratonistas. Foi o caso de James.
Os torcedores da maratona – emoção que empurra os corredores
James ia correndo bem ao meu lado, com sua bandeira britânica no número do peito. Passávamos e a torcida gritava “C’mon James”! Como eu não era fast, nem beautiful (o slogan da Maratona), tampouco meu nome era fácil de pronunciar na Suíça, ninguém gritou meu nome…
Mas lá pelas tantas, pude ver na minha frente um menino dos seus 4 anos com a mão estendida esperando por um cumprimento. O Maratonista na minha frente passou direto, ignorando-o, e ele fez a maior cara de choro do mundo… eu vim logo atrás, gritei “Hey”, a mãe dele gritou “Adam, watch the runner coming” e ele preparou a pose mais linda daquela corrida… eu bati levemente na mão dele, recebi toda a energia que eu precisava para continuar correndo e o deixei sorrindo e pulando, acho que satisfeito.
O final de se aproxima: quilômetros decisivos

Parte do percurso da Maratona de Genebra – quilômetros finais já dentro da cidade
Então continuei correndo, energizado, e me vi no km 32 novamente ao lado de James. Disse-lhe: “c’mon James, let’s do our best 10K”! Ele balbuciou algo, sorriu e continuamos pelos arredores de Genebra.
Descemos então um túnel e saímos, enfim, na orla do Lago Léman, com o imponente Jato d’Água visível à direita. Ou seja: a Maratona de Genebra é uma corrida que passa 32Km pelos arredores da cidade, sendo que só cerca de 10km são efetivamente na Capital do Cantão.
Abastecendo a máquina
Logo após o km 32, eu precisava de um gel de carboidrato. Eu estava correndo bem há 3h e era hora de me alimentar, mas nenhum gel me pareceu digerível.
Eu avaliava as opções, mas não conseguia decidir se era melhor o gel A, o gel B ou usar uma cápsula de mel. Eu ainda tinha 10km pela frente, suplementar era necessário, mas não sabia o que fazer. Decidi então usar o gel de carboidrato B, que estava separado para o plano B.
Os corredores chegam a Genebra e a torcida se intensifica
Até hoje não sei se ele foi a melhor escolha, mas, logo após, a prova entrou definitivamente em Genebra e a torcida aumentou. Havia muita gente na rua torcendo, o que desviou um pouco minha preocupação.
Torcida ganha jogo, às vezes. No caso de Genebra, a torcida perto da chegada fez a diferença. As pessoas gritam, aplaudem, incentivam. A criançada ri, canta, dança. Nesses últimos quilômetros, é muito importante ter companhia.
A prova então sai da orla do Léman e entra na Rue du Rhône, que dizem ser uma das ruas mais caras da Europa. Mas, naquele dia, os mais preciosos eram os Maratonistas.

Os maratonistas passam atrás de mim, na orla do Lac Léman
Cruzamos então a Pont des Bergues, voltamos para a parte central de Genebra e os quilômetros finais. Passo o Km 40 e estou bem. A prova faz sua última curva acentuada e entra na reta final, à beira do Lago Léman. Agora só resta sorrir.
A sonhada chegada da maratona

A felicidade de quem terminou mais uma maratona
Eu “conhecia” aquela área, pois havia caminhado ali nos dias anteriores. Faltava pouco de verdade, eu sabia. A Pont du Mont-Blanc, onde estava o pórtico de chegada, era perto e já podia ser vista. Mas eu estava longe do meu tempo previsto.
Sempre considero “pace” de 6min por km. Ou seja, minha previsão é terminar uma maratona em 4:12h. Mas meu GPS não marcava 4:10h. Meu GPS estava abaixo de 3:50h.
Continuei correndo e acreditando. E meu GPS apitou “low battery” quando marcou 3:51h, antes da linha de chegada. Mas eu sabia que ele não me deixaria na mão, principalmente quando lhe sussurrei que ele iria para o fundo do Lago Léman se apagasse antes da linha de chegada…
Então entrei na Pont du Mont-Blanc, segurei a passada e cheguei… em 3:52h!
Décima Maratona, melhor tempo: sub 4h.
Incrível. No país conhecido pelos relógios, eu havia diminuído meu tempo da Maratona em 15min. Eu me tornara um maratonista sub 4h! Eu não quebrei!

Leo finalizando a Maratona de Genebra (de boné azul)
Extra Mile Mont Blanc for UNICEF
Enquanto caminhava depois do pórtico da chegada, ainda assimilando o resultado, me deparei com o pórtico da Extra Mile Mont Blanc for UNICEF, na qual havia me cadastrado.
Tratava-se de 1,6km adicionais à maratona, que gerariam doações da Mont Blanc à UNICEF por cada Maratonista que desse essa volta.
Enquanto pensava em como correr essa milha, uma mocinha apareceu e disse: “relax, you can walk it. We just need you to complete the extra mile”.
E lá fui eu, alegremente caminhando pelos 1,6km extras, admirando minha medalha e ralhando com meu GPS que não devia me assustar daquele jeito…
Então saí da festa da chegada e fui caminhando para o hotel. Passei novamente pela Pont du Mont-Blanc, que agora era minha e das minhas 3:52h.
Admirei o Jato d’Água do Lago Léman e suspirei, desejando encontrar Analuiza para compartilhar comigo aquele momento.
Andei um pouco mais, mas resolvi voltar para a última visão do Lago com a medalha no peito. No que vejo Analuiza tirando fotos minhas… e minha corrida se tornou perfeita. Daí eu acho que vem o nome da prova: Harmony Geneve Marathon for UNICEF.
- Leo em várias versões de felicidade
Eu, a maratona e a comemoração

A bela Nyon

Comendo crepe e tomando vinho suíço em comemoração a ótima corrida de Leo
Enquanto Leo corria, eu passeava por Nyon, cidade vizinha a Genebra. Voltei para vê-lo chegar, mas com seu tempo abaixo do esperado, só consegui encontra-lo na borda do Lago Genebra, preparando-se para ir para o hotel.
Comemoramos sua incrível marca na Maratona de Genebra, comendo crepe, tomando vinho suíço e relaxando nesta deliciosa cidade.

A medalha de finisher
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Que história mais linda, Leo e Ana!
Eu corri com o Leo, imaginando se vou conseguiu completar a minha primeira em 2018. Que os mesmos bons ventos que melhoraram seu tempo, Leo, me ajudem a completar minha quilometragem! 🙂 E que venha a Rio 2018!
Parabens pelo tempo incrivel!
Tenho certeza que vai! Você é menina danada! Pernambucana acariocada! Eu estarei lá, em Copa, para gritar palavras de incentivo! Na torcida enviando boas energias! 🙂 bjus Leo agradece! rsrs
Leo, ainda que com um pouco de atraso, receba os meus parabéns por essa conquista. Só quem já treinou para participar de uma maratona sabe o tanto de dedicação e disciplina requeridos para alcançar um bom resultado. Agradeço por você ter compartilhado sua experiência. Sem dúvida isso contribui muito para tomarmos conhecimento de alguns detalhes importantes dessa prova.
Oi Plinio, obrigado!
De fato, treinar para uma maratona requer muita entrega… são meses e meses de treinos, mesmo quando você não quer, a saúde não deixa, o trabalho atrapalha… mas, se você for determinado, a recompensa vem!
E acho importante relatar as características das provas por que ajuda as pessoas na escolha do próximo desafio, considerando as diversas opções atualmente…
Boas viagens e excelentes corridas!