O Centro Histórico de Genebra é um lugar bonito. Sua arquitetura é maravilhosa, elegante, clássica. Tem uma constante tonalidade de bege que poderia nos remeter a algum tipo de monotonia, mas ao contrário disto, a Place du Bourg-de-Four está distante de qualquer insipidez, sendo ela inspiradora e cheia de maravilhosos personagens a serem explorados.
A Place du Bourg-de-Four é a praça mais antiga da cidade, frequentada desde a época dos romanos. Muitos vultos interessantes fazem parte de sua trajetória: alguns já não existem mais, foram engolidos pelo tempo, enquanto outros seguem firmes através dos corredores temporais, contribuindo para a atmosfera antiga desta parte da cidade.
Olhando para seu passado mais distante descobrimos que ali já funcionou um fórum romano. Já no século IX ai funcionava um importante mercado.
Hoje o que vemos por ali são charmosos cafés, casas de chá, chocolaterias e restaurantes de muitos estilos, além de pessoas subindo e descendo suas ruas levemente enladeiradas, sem um formato padrão. Esta irregularidade é um dos aspectos sedutores da velha praça.
Ganhou seu formato atual no século XIX.
A origem do nome
Há duas possíveis explicações para a origem do nome Place du Bourg-de-Four: uma delas diz que seria uma derivação da palavra “Allbroges”, pois este pedaço do Centro Histórico de Genebra foi construído fora das muralhas da cidade velha.
“Borg-de-Feur” significaria “Aldeia Fora”.
A outra teoria remonta o século V e dá conta de que o nome viria das palavras latinas “Forum” e “Burgondes” e faria referência ao Fórum dos burgúndios, a tribo germânica que dominou esta região neste século.
Place du Bourg-de-Four no século V

O Rei Gondebaud apoiado em sua espada
Já que estamos falando de século V, vou contar de um personagem que vive pela Place du Bourg-de-Four: Gondebaud apoiado em sua espada, rei da Borgonha ou de Burgúndio cuja capital era Genebra, onde morreu em 516.
A escultura entretanto é mais recente, datando de 1957.
Esta é uma velha história que nos faz viajar até o século V quando o povo germânico de Borgonha formou um reino ao longo do Rio Reno (o nome do rio tem origem celta e significa fluir). Ainda na primeira metade deste século, eles foram quase completamente destruídos pelos hunos.
O que restou deste povo foi autorizado pelo Imperador Romano Aetius a se estabelecer em torno do Lago Genebra e então a cidade de Genebra tornou-se a capital do reino.
A guerra fratricídia
Ao longo dos anos seguintes, o reino de Borgonha foi se ampliando pacificamente. Dois irmãos nesta época dividiam o poder. Um deles atendia pelo nome de Chilperic, que se instalou em Lyon e teve 4 filhos. Dois morreram, restando Gondebaud que assumiu a administração do reino em Lyon compartilhando com Godegisèle estabelecido em Genebra.
Já no fim do século V Godegisèle traiu seu irmão, se aliando a Clóvis, o rei dos Francos, mas Gondebaud os derrota, não sem danos, contudo: entre 500 e 501 Genebra pegou fogo afetando inclusive a Catedral de São Pedro que está ali perto.
Com a vitória, Gondebaud tornou-se o único rei até sua morte em Genebra em 516 e durante seu reinado estabeleceu a ordem e a paz. Lançou ainda as leis burgúndias que, resumidamente, eram as leis típicas do modo de viver dos burgúndios, baseadas nos códigos romanos que, entre outras coisas, previam aplicação de penas distintas a etnias diferentes.
Seu castelo ficava na Place du Bourg-de-Four, mas há muito tempo não existe mais.
O Palais de Justice de Genebra e suas transformações

Palais de Justice com entrada para a Place du Bourg-de-Four

Palais de Justice na Rue des Chaudronniers 9
O rei Gondebaud não é o único habitante importante para a trajetória genebrina que vive no Centro Histórico de Genebra. Não, senhor! Reside também nesta velha praça o Tribunal de Justiça, que possui uma de suas entradas voltada para a Place du Bourg-de-Four e outra na Rue des Chaudronniers 9.
O curso do Palais de Justice
O Palais de Justice de Genebra nem sempre desempenhou esta função. O belo, sólido e austero edifício onde hoje funciona o Tribunal de Justiça teve sua construção inciada em 1706, sendo concluído apenas em 1712, para funcionar um novo hospital, em substituição ao antigo.
Tudo aconteceu assim
Em 1474 neste local havia outro prédio, erigido para ser o Convento de Santa Clara, pela Duquesa de Saboia, irmã do Rei de França, Luís XI.
A vida das Clarissas no convento era austera.
Com a Reforma Protestante do século XVI, o convento foi saqueado, as irmãs fugiram e o local passou a funcionar como o hospital geral até o ano de 1712. Os claustros foram transformados em dormitórios e a capela continuou a ser um lugar de oração, mas agora, para os calvinistas.
Nesta data um novo hospital foi construído no mesmo lugar, com ar mais grandioso, onde só a capela do antigo convento foi preservada. Então, a partir de 1860, o prédio passou a abrigar o Palais de Justice de Genebra, que antes funcionava no Hôtel-de-Ville.
A restauração do edifício levou a descobertas de antigas construções romanas como casas luxuosas das décadas de 30 e 40 d. C., além de termas pertencente a uma Vila.
Foi diante deste lugar, tão antigo quanto repleto das mais variadas histórias, que nos deixamos ficar por uns momentos, naquele fim de tarde genebrino de agradável temperatura fria.
Quantas vidas passaram por aqueles ambientes. Camadas e camadas de velhos e novos mundos.
As casas e a Reforma Protestante

Bela arquitetura: curiosas janelas irregulares

Parte da antiguidade genebrina
O casario que cerca a praça varia de aspecto cobrindo mais ou menos dois séculos de estilos arquitetônicos, sendo as casas mais antigas datando do século XVI. Muitos protestantes que fugiam de perseguições em outros países, encontraram abrigo na cidade de Genebra e passaram a viver bem aqui na Place du Bourg-de-Four, no que hoje chamamos de Centro Histórico de Genebra.
Apesar disso, de ser muito velha, antiga, esta é uma parte muito viva da cidade.
Reza a lenda que foi preciso adicionar mais andares aos prédios para acomodar tantos refugiados. Talvez isto explique os formatos irregulares das casas, explícitos principalmente nas janelas lindamente assimétricas.
Agradável atmosfera

Recortes da Place du Bourg-de-Four

Charmosas vitrines na Place du Bourg-de-Four

Centro Histórico de Genebra
Contudo, caro viajante, se nada disso, dessas coisas antigas te interessam, o Centro Histórico de Genebra com sua Place du Bourg-de-Four e sua agradável atmosfera ainda é um lugar perfeito para uma visitinha. Sentar em algum lugar para tomar um café e/ou uma taça de vinho enquanto observa o movimento (especialmente para os bolsos abastados) com certeza é um desses momentos deliciosos.
Para quem o bolso um tantinho assim raso como o meu, pode fazer o que nós fizemos na Place du Bourg-de-Four. Além de conhecer de perto seus personagens antigos, nós caminhamos, observamos, admiramos, tiramos fotos, fuçamos uma ou outra lojinha como a Cave du Palais de Justice, a mais antiga adega de vinhos de Genebra, com mais de 200 anos de existência e o ambiente com cara de antigamente, carregado no quesito charmoso.
Então, seguimos nosso caminho, pois aquela noite tínhamos ingressos para o teatro.
Quero concluir dizendo que esta é apenas uma pequena nesga da história desta charmosa praça. Ela ainda tem muitos outros segredos. Se você os descobrir, caro viajante, volte por favor para me contar!
Deixamos o Centro Histórico de Genebra para trás e fomos até o Edward´s, uma rede de lanchonetes com vários endereços na cidade, onde compramos sanduíches to go para comermos antes da ópera.
Quer conhecer outro local importante na velha Genebra que está perto da Place du Bourg-de-Four?! Então clica no link bem aqui abaixo!
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O centro histórico de Genebra na Suíça
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Passei tão rápido por essa praça fofa, que não reparei em alguns dos detalhes que você explicou aqui no post. Adorei saber mais! 😉
Que om Luiza que pude te levar de volta a Place du Borg-de-Four com todo o peso histórico que ela carrega e a fofurice! 🙂 bj
Essas janelas irregulares, a escultura. Todos esses detalhes na arquitetura deixam a cidade ainda mais charmosa. Obrigado por compartilhar =)
Bem isso, Diego, bem isso… rsrsrs
Adorei o post recheado de história, me senti como se estivesse passeando por lá!
oi Adriana, que bom que gostou! bj
Eu adoro história e viagem com história fica melhor ainda.. amei saber sobre Genebra, ver suas fachadas com linda arquitetura.
Concordo muito com isto Aline: viagem e história, história e viagem! 🙂
Que texto maravilhoso, adorei viajar um pouco na história de Genebra através do post. E é isso aí, mesmo para quem está com o bolso raso, há sempre muita riqueza grátis nesses destinos cheios de história.
Ahhhhh… fico tão feliz em saber que gostou Fabio!! Genebra é uma cidade que me deixou muito encantada! 🙂 Para quem tem bolso raso e olhos atentos sempre é possível encontrar diversão não é mesmo?! bjinhos
Ana, gostei muito do recorte que você fez, analisando os pedacinhos da praça e nos contando aqui. Em geral, escrevemos sobre a cidade e um ou outro ponto turístico mais detalhadamente, mas assim você com certeza conheceu mais da cidade e viajou novamente ao escrever. Eu, aqui, voltei à minha primeira vez em Paris, pois a imagem inicial se parece muito com uma pracinha na Rue Monge, onde nos hospedamos e nos sentimos em casa. Abraços!
oi Marcia… feliz demais em saber que gostou de conhecer a Place du Borg de Four comigo. Gosto de saber um pouco do passado dos lugares que visito, pois assim eles ganham alma para mim. É um vício! Quando cheguei a esta velha praça fiquei a imaginar quantas coisas já aconteceram por ali… Para mim, os pedaços de uma cidade formam sua identidade. Como uma colagem, vou buscando conhecer um bocadinho aqui, outro acolá… rsrsrs
Ainda não conheço Paris, mas ela está em meu radar! Bom saber sobre a Rue Monge: um lugar para nos sentirmos em casa em Paris! 🙂 bjs