Em 29 de novembro de 2016, aconteceu a 32ª. edição da Maratona de Florença (Firenze) com 10.000 inscritos, temperatura próxima aos 3°C, em uma manhã de Outono italiana.
A seguir as emoções e peculiaridades da corrida, por Léo

Belíssima Florença
Costumo pesquisar maratonas no site da International Association of Athletics Federations (iaaf.org). Foi assim que me interessei pela Maratona de Firenze (Itália).
O que me atraiu foi já ser a 32ª. edição, a previsão da temperatura ser fria, o percurso ser urbano, largada 9:15h e patrocínio Asics.
Além disso, a feira da prova prometia, o site da prova é fácil de navegar e estava cheio de informações em inglês. Para completar, Florença é Florença, berço da Renascença, ou seja, lugar perfeito para “maraturismo”.
Vamos nessa!
Veja como foi a Feira da Maratona:
+ Feira da Maratona de Firenze
Retirada do Kit e visita guiada

Retirada do Kit
Uma particularidade no número do peito da maratona de Firenze: ao lado de meu nome, a bandeira do Brasil.
Como informei que pretendia terminar a prova em 4h12min, estarei na faixa de largada 5, identificada pela cor verde.
Além do número do peito, o kit vem com mapa, gel de carboidrato, saco plástico para ser “vestido” enquanto se aguarda a largada (utilíssimo a 3° C) e outras coisas.
A camisa da prova, parte integrante do kit, é entregue do outro lado da feira, fazendo com que o atleta passe por todos os stands de patrocinadores e expositores antes de retira-la.
A camisa da prova: mangas longas e tecido “grosso”, em comparação com as camisas das provas brasileiras. Claro: a previsão era de 0 grau na largada.
A Asics, como sempre mandou bem: stands enormes, distribuídos pela feira, vendendo tênis, bonés, camisas e aplicando teste de pisada. Também fornecia aos atletas pulseira com o ritmo pretendido.
Por fim, chequei o funcionamento do chip de cronometragem e vi meu nome aparecer num telão. Agora, só “bastava” correr 42K dois dias depois.
Na noite anterior à prova, a organização ofereceu visita gratuita guiada pela Basílica de Santa Croce, onde houve a missa do maratonista. Casa cheia.
Venha conosco nessa visita guiada por Santa Croce
O grande dia da Maratona de Florença
- Caminhando pela orla do Rio Arno
- Vestido com seu saco para proteger do frio
- Belo caminho até a largada
Na manhã da prova, a sensação térmica era de 2°C do lado de fora do hotel. Como estávamos a mais ou menos 20min de caminhada do local da largada, que ocorreria às 9:15, não foi preciso acordar tão cedo.
Preparei-me, “vesti” meu saco plástico e partimos. Já na rua, encontramos diversos outros maratonistas e seus acompanhantes. O trajeto entre o hotel e a largada foi pela beira do Rio Arno.
Com previsão de 10.000 maratonistas, o local da largada, ainda ao lado do Rio Arno, era pura festa. Mas os atentados em Paris, 2 semanas antes, me deixavam atento a qualquer atitude estranha ao redor.
10.000 atletas + 10.000 acompanhantes num lugar apertado significavam o alvo perfeito para novo ataque. Mas nada de ruim aconteceu.
1 minuto de silêncio
- Corridas de rua são uma festa
- Os maratonistas chegando e passando em frente a Torre San Niccolò
- Na preparação
Fui então para o espaço reservado à minha faixa de tempo de conclusão da prova e esperei o sinal para começar a correr. Emil Zapotek, lendário corredor, disse: “se você quer correr, corra 1 milha. Se você quiser uma experiência de vida, corra uma maratona”. É mais do que isso.
Enquanto se espera a largada de uma maratona, um turbilhão de pensamentos passa pela cabeça.
Depois de 1min de silêncio para as vítimas de Paris, a 32ª. edição da Maratona de Firenze começou na hora marcada. Era minha sétima maratona, a quarta de 2015.
Eu, Ana, estava esperando a largada junto com outros tantos torcedores. Estava um zum zum zum danado, energia típica da largada das corridas de rua. Quando foi pedido 1 minuto de silêncio, o ruído cessou imediatamente. O silêncio foi absoluto e emocionante
A animada torcida italiana

A animada torcida italiana
Os primeiros quilômetros passaram pela Piazza Beccaria e pela Piazzale Donatello, até virarmos à esquerda na Piazza della Libertà. Avenidas largas, com muitos corredores ainda juntos, mas fluindo. Era fácil ultrapassar e ser ultrapassado.
Torcedores espanhóis estavam espalhados pelas vias e gritavam “CAMPEONES”! Com fronteiras rápida e facilmente transponíveis, é muito comum encontrar europeus de todos os lugares em todas as grandes provas europeias.
Passamos então pela Fortezza da Basso, subimos um viaduto sobre a linha férrea e viramos à direita na Stazione Leopolda. Cruzamos outra linha férrea e entramos num enorme parque arborizado depois do quilômetro 5 de prova, acho que o Parco delle Cascine.
A via estreitou e requereu atenção. Qualquer tropeço iria derrubar o maratonista da frente e fazer boliche com os que vinham de trás. Mas o fluxo seguia e logo a via se tornou mais larga.
Nesse trecho, a torcida era predominantemente italiana, mas para todos os corredores. Assim como na Holanda, na Espanha e na Rússia, me parece que os locais ficam felizes pelos atletas, independente da origem. Devem pensar: “esse atleta veio correr na minha cidade; vou agradecer pela escolha, incentivando”. E funciona.
“Uma maratona se corre: 30K com as pernas; 10K com a cabeça; 2K com o coração; e 195m com lágrimas”

Esperando Léo passar para incentivar
Durante a prova, presto bastante atenção ao meu redor e não posso deixar de perceber os outros corredores e suas indumentárias. Li numa camiseta: “uma maratona se corre: 30K com as pernas; 10K com a cabeça; 2K com o coração; e 195m com lágrimas”…
Saímos do parque perto do quilômetro 15 e cruzamos nossa primeira ponte sobre o Rio Arno: Ponte della Vitoria, seguindo pela outra margem.
Postos de Hidratação

A Maratona passou por aqui, pelo Palazzo Pitti
Havia pontos de hidratação a cada 5km mais ou menos, mas a quase totalidade deles com copos descartáveis de plástico. Quem já tentou beber água de um copo descartável enquanto estava correndo sabe o quanto é difícil… a 5º.C, então, sabe como um golinho pode gelar a mão, a boca, o peito, as pernas…
Passamos pelo primeiro ponto turístico de peso da maratona pouco antes do quilômetro 20: Porta Romana, logo após, Palazzo Pitti. Retornamos para a margem do Rio Arno, passamos abaixo da Piazzale Michelangelo e cruzamos nossa segunda ponte: San Niccolò, pertinho da largada. Continuamos pela margem do Arno.
Muito perto do quilômetro 21, vi a cena mais marcante das minhas corridas: numa avenida larga, um voluntário da prova sinalizava com bandeiras que havia um maratonista caído no chão.
Ao passar pelo local, pude ver um atleta recebendo massagem cardíaca, com muito sangue espalhado ao redor. Como ele já estava sendo atendido, segui correndo.
Correr maratona é para os fortes
- Corrida é um esporte democrático e emocionante, mas é para os fortes
- Lá vai Léo, de vermelho, no fundo da foto
- O percurso passa por importantes pontos turísticos de Florença
Saímos da margem do Arno e passamos pela Stazione di Campo de Marte, chegando à região do complexo esportivo da feira da prova.
Havia bandas tocando em pontos específicos de todo o trajeto, além dos torcedores locais, e tudo isso ajudava os atletas. Já estávamos no quilômetro 30. Atletas caminhavam e vi uma maratonista vomitando.
Correndo pelos Cartões Postais de Florença
- O Complexo do Duomo
- Ponte Vecchio
Começamos a voltar para o centro, onde os pontos turísticos mais conhecidos nos esperavam. Passamos pelo meio da Piazza della S.S. Annunziata e logo após vimos o Duomo crescer à nossa frente. Algumas ruas já eram estreitas, mas poucos maratonistas corriam juntos. Depois do meio da prova, os grupos de corredores diminuem.
Depois do Duomo, corremos mais ou menos 3K até a margem do Arno, de novo. Cruzamos a Ponte Santa Trinita até a outra margem e seguimos até virarmos, como mágica, para atravessarmos correndo a famosa Ponte Vecchio.
Para mim, que havia chegado a Firenze 4 dias antes, mas ironicamente ainda não havia atravessado essa ponte, significou muito tê-la só para mim. Que honra e que alegria atravessa-la pela primeira vez durante uma maratona! E isso também significava que a chegada estava bem próxima.
Já no quilômetro 40

Piazza della Signoria, coração de Florença
Seguimos em frente e logo após chegamos à Piazza della Signoria, com o Palazzo Vecchio nos esperando. Nesse ponto, as calçadas já estavam tomadas pelos turistas, mas as ruas continuavam interditadas para a passagem dos maratonistas.
Os voluntários da prova eram rígidos: não permitiam travessias de pedestres entre calçadas, a não ser que não atrapalhassem os corredores.
Mais um pouco e contornamos o Duomo pela última vez, já no quilômetro 40. Segundo a camiseta, só faltam 2K com o coração e 195m com lágrimas…
Nesse ponto, costumo pensar que faltam apenas 5% da prova… que não vale a pena caminhar… que já tem alguém segurando uma medalha para colocar no meu pescoço… que tantos e tantos treinos merecem recompensa… que meus amigos estão torcendo por mim… então busco minhas últimas forças, estampo um sorriso no rosto e sigo correndo…
- Esperando Léo passar para o quilômetro final
- Herois da resistência: o moço de preto quase carregado pelos amigos – solidariedade.
- Lá vem ele para a reta final
- Quase 42 kms depois e ele ainda tem ânimo e resistência para sorrir
Vejo Analuiza mais uma vez (não sei como ela se multiplicou ao longo da prova) e ela me incentiva mais uma vez.
Chego pela última vez na margem do Arno, faltando menos de 1K para a chegada. O corpo segue o ritmo, impulsionado por 4h de corrida. Diversos corredores já chegaram, mas continuam incentivando quem ainda não parou.
42.195 metros depois…
- A chegada e dispersão da corrida na Santa Croce
- Campeão
- Léo, a medalha e a Basilica de Santa Croce
- Meu corredor preferido
Viro à direita e vejo a Igreja de Santa Croce, onde pedi proteção na noite anterior. Ela não me olha, mas sei que me protegeu por mais de 42K. Viro à esquerda e vejo a linha de chegada, que atravesso flutuando. Pronto.
Meu GPS marca 42,87K em 4h09m06s. Para mim, o importante foi não ter caminhado. Para mim, a maratona foi perfeita.
Todo corredor é um vencedor

Hora de banho e almojanta
Sigo caminhando até a dispersão. Recebo emocionado a linda medalha e me envolvo na manta térmica. Há frutas, chá, água. Há uma multidão. Para mim, há conquista: minha sétima maratona.
Para mim, Ana, como torcedora e observadora, a Maratona de Florença foi uma das melhores, pois o percurso foi quase todo dentro da cidade, então pude acompanhar de perto a corrida. Vi suor, lágrimas, sofrimento, superação e solidariedade. Eu amo a emoção das corridas de rua.
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